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Criança dá trabalho? A retirada da fralda e o começo da birra

Tânia R Baptista • 15 de julho de 2018

Vamos continuar nossa reflexão sobre a criança até 3 anos (veja o artigo " Criança dá trabalho? Como lidar com crianças pequenas? "). Por volta dos 2 anos, há outro ponto importante que merece nossa atenção: o período da retirada das fraldas, que ocorre quando a criança começa a ter o controle orgânico da vontade de urinar e evacuar.

Segundo Freud, neste período ocorre a segunda fase da evolução da libido, chamada de fase anal (2-4 anos). Nesta fase a criança passa a centralizar sua atenção para a região anal, e vive prazerosamente o processo de eliminação e retenção das fezes. Ela percebe-se separada da mãe (lembram-se do que falamos sobre a fusão da mãe e da criança? Veja o artigo “ Crianças que dormem com os pais: a quentinha e perigosa cama da mamãe " ). A vivência de prazer muda de foco: da boca passa para a região anal.

Agora a criança passa a ter mais contato com as fezes. Ela é solicitada a perceber a hora que lhe dá vontade de evacuar, às vezes a segurar um pouco. A criança, que antes não visualizava o cocô, agora o vê, entende as fezes como um pedaço dela que se separa, algo que ela fez, e vê seu produto ir embora.

Caso neste processo a criança sinta-se estimulada de forma carinhosa a que faça o cocô em um lugar diferente, e quando acontece isso a mãe se felicita, ela entende que seu produto (sua obra), quando depositado no local certo, é um presente para a mamãe! Mas caso se sinta ameaçada ela pode negar dar este presente para a mamãe, pois pode entender esta separação como perda: perdeu um objeto que veio dela, assim como está “perdendo” a mãe.



A criança que vive a angústia em ver o cocô ir embora pode não estar vivendo bem a separação dela com a mãe.

Há ainda algumas crianças que resolvem brincar com sua obra, ou seja, manipulam as fezes. Como fazer em um caso destes, onde a atitude de repugnância dos pais surge quase espontaneamente?

A criança viu seus pais manipularem seu cocô o tempo todo, e muitas vezes este momento foi muito agradável. A atitude de repugnância dos pais diante da criança que manipula as próprias fezes pode atormentar a criança. Ela não entende porque seus pais ora valorizam sua produção e ora fazem cara de nojo!

Então, como os pais podem ajudar a criança a viver tranquilamente o processo da retirada das fraldas?

Vou direto para o caminho do meio: é importante contribuir para que a criança viva este processo sem medo, sem ameaças e sem gritos.

Cada criança tem o seu tempo de aprender a controlar a vontade. E que ela possa limpar-se sozinha o mais cedo possível, que ela possa viver este processo com prazer (está valendo o famoso “tchau para o cocô”). Ajudá-la a compreender que há, sim, um local mais adequado para defecarmos; mas se “escapar”, e acontecer no meio da sala, que ela saiba que ninguém vai rir, nem achar uma gracinha, nem agredi-la, e nem achar nojento o que ela fez. A criança tem inúmeras fantasias a respeito desta mágica de controle, entre o poder reter e expelir, e muitas reações exageradas dos adultos podem confirmar estas fantasias. Atitudes mais ponderadas permitem que a criança confronte a realidade e a fantasia. A retirada das fraldas não é um processo difícil; nós é que o tornamos assim.

Finalizando, interessante apresentar que Freud relaciona esta fase à formação da ordem, parcimônia e teimosia. A criança passa a viver a experiência da destruição (eliminação das fezes) e do controle possessivo (retenção das fezes). E é justamente neste período que podemos ver o surgimento de grandes momentos de teimosias – as birras. Geralmente, quanto mais severa for a atitude dos pais na retirada das fraldas, mais teimosa esta criança poderá se tornar, pois ela precisa provar seu poder de dar e retirar.


Neste período, a criança apresenta uma força incrível para que suas vontades sejam satisfeitas. Ela procura largar a mão ao atravessar a rua, ou se joga no chão quando não tem o que deseja. O que fazer?
Além do diálogo, a criança precisa ser contida e vivenciar que não pode ter tudo o que quer. Vejo muitos pais com medo de “traumatizar” os filhos com esta atitude, mas conter, segurar, não precisa ser feito com raiva ou violência; basta limitar os movimentos para que ela não se machuque e pare de se contorcer. Dependendo do local vale também não dar valor ao fato (ou seja, ignorar), pois o que ela quer é justamente chamar atenção. E observe: quanto menos ela viveu o limite (dado de maneira amorosa), maior vai ser a birra. Mas também vale salientar que crianças boazinhas demais, que nunca fizeram birra, podem estar reprimidas por excesso de limites.

O essencial é não ter medo de dar limites nem afeto, e manter-se no caminho do meio, o caminho da sabedoria. Paz e bem.

Por Paulo Daruiche 20 de abril de 2020
Estamos vivendo momentos difíceis no Brasil, e especialmente na cidade de São Paulo. Após um mês do primeiro caso confirmado de vítima fatal relacionada à Covid-19 (este texto foi revisado em 17/abril/2020), passamos de 2000 mortes no Brasil (no estado de São Paulo temos a maior incidência, que são 928 mortes). Segundo os especialistas, estamos ainda na curva ascendente desta epidemia. E o isolamento paulista por enquanto segue até o dia 10 de maio. Um fator que aumenta muito o estresse que estamos vivendo é a falta (ou o excesso) de informações. Em parte porque ninguém ainda sabe, realmente, muita coisa sobre essa doença nova. Estamos aprendendo com ela, ao longo do tempo. Temos visto a comunidade científica divergindo de opinião. Por exemplo, vimos pesquisadores renomados afirmando veementemente que o número de mortos no Brasil (por sermos um país subdesenvolvido) poderia passar de um milhão de pessoas. Esta profecia parece ser bem distante de acontecer, ao menos até agora. Também vemos a divisão sobre quais tratamentos seriam mais eficientes, quais protocolos teriam melhor efetividade nas UTIs etc. O que temos de concreto até o momento? Em primeiro lugar, vamos ver as estatísticas. No Brasil, a mortalidade relacionada a esta doença hoje é de cerca de 6%. Ou seja, morreriam 6 em cada 100 pessoas doentes. É um número alto; mas esse número não está correto , pois não se sabe ao certo quantas pessoas tem a doença no Brasil. Estima-se que o número de pessoas contaminadas com Coronavirus seja muito maior (alguns pesquisadores falam em 10x mais), e não sabemos o número correto porque não são feitos testes para pessoas assintomáticas, ou com sintomas leves. Por isso, a taxa real de mortalidade deve ser bem mais baixa - talvez algo em torno entre 0,5 e 1%. Em segundo lugar (ainda nas estatísticas), existe um grupo de risco muito claramente definido. São as pessoas maiores de 60 anos, que apresentem doenças crônicas anteriores - especialmente cardiopatia e diabetes: 75% das vítimas fatais estão neste grupo (ou seja, 3 em cada 4 vítimas). E os homens também estão mais vulneráveis: cerca de 60% das vítimas são homens. Em terceiro lugar, nosso sistema de saúde precisa melhorar bastante. Normalmente faltam recursos, faltam leitos comuns. Esta doença, como vimos, tem uma preferência marcante por pessoas idosas, mas pessoas mais jovens também ficam doentes. O agravante é que nosso sistema de saúde não está preparado para receber um número maior de pessoas ao mesmo tempo, e isto provocaria um colapso - os poucos leitos que temos são ocupados rapidamente, e podemos chegar a uma situação na qual estejamos sem estrutura para acolher as pessoas doentes. Esta é a razão do isolamento em casa: demorar mais para contaminar toda a população, e dar tempo para os leitos dos hospitais ficarem desocupados (ou não totalmente ocupados, por nem todos ficarem doentes ao mesmo tempo). Além disto, não há consenso sobre o tratamento, e o tempo de ocupação dos leitos hospitalares e de UTIs é de duas a três semanas. Por fim, uma comparação com a mortalidade da gripe sazonal. Estima-se que no mundo morram todo ano até 650 mil pessoas por doenças respiratórias relacionadas à gripe comum (dados da OMS -Organização Mundial da Saúde). Até o momento em que este artigo é escrito temos cerca de 150 mil mortes relacionadas ao coronavirus. Então, o que sabemos desta doença é que: . A maioria das pessoas vai se contaminar em algum momento; . A grande maioria das pessoas (especialmente as mais jovens) terão pouco ou nenhum sintoma - mas esta doença também afeta pessoas mais jovens; . A taxa de mortalidade é muito mais alta entre as pessoas com mais de 60 anos e com doenças crônicas pré-existentes; . A mortalidade é maior entre os homens; . A taxa de mortalidade real desta doença parece ser relativamente baixa, provavelmente similar à da gripe sazonal e suas complicações; . Por enquanto ainda não há consenso sobre o tratamento alopático. Como a Homeopatia pode ajudar? Como já dissemos em outros textos, a Homeopatia pode ajudar de três formas: 1. Uma delas é tratando as pessoas doentes. Sabe-se que esta doença tem três fases: na primeira fase temos poucos sintomas (às vezes a pessoa nem tem sintomas): garganta seca, dores pelo corpo, cansaço, falta de apetite, diarréia, e dois sintomas bem peculiares são a anosmia (ausência repentina do olfato sem nariz congestionado) e a ageusia (ausência do paladar); na segunda fase aparece a dificuldade para respirar, a prostração fica muito grande, a pessoa sente cansaço para os mínimos esforços. A febre é geralmente baixa, alternando com calafrios e suor. E a terceira fase é a da insuficiência respiratória, onde os pulmões ficam muito comprometidos. De um modo geral, os sintomas que temos visto nos pacientes das duas primeiras fases são: . Grande fraqueza, debilidade; tontura; . Boca seca; . Náuseas; . Diarréia; . Dores de cabeça (às vezes concentrada no olho); . Dores no corpo (nas costas principalmente); . Dor no peito (muitas vezes em queimação); . Tosse seca; . Falta de ar, sensação de estar sufocando; . Piora geral ao entardecer; . Febre com calafrios; . Transpiração profusa. Temos visto que alguns medicamentos homeopáticos tem sido valiosíssimos (como o Arsenicum album, Camphora, Bryonia alba, Phosphorus, Antimonium tartaricum, Carbo vegetabilis , entre outros), mas é preciso individualizar cada caso para escolher o melhor medicamento. Em nossa experiência, o medicamento que tem resolvido mais de 90% dos casos tem sido o Arsenicum album. Ainda não tive a oportunidade de tratar nenhum paciente internado em UTI, mas com os medicamentos acima percebemos que os pacientes que já estavam passando da segunda para a terceira fase melhoraram com o tratamento homeopático domiciliar, e a doença regrediu. Neste momento posso contabilizar mais de 30 pacientes meus tratados em casa com homeopatia (confirmados de Covid-19 ou morando com pacientes confirmados). Tenho conversado com diversos médicos homeopatas de São Paulo e do Brasil, e a experiência tem sido bastante semelhante. Arsenicum album tem sido de enorme ajuda. 2. A segunda forma de ajuda que a Homeopatia pode oferecer é a identificação do “medicamento da epidemia”, que na Homeopatia chamamos de “Gênio Epidêmico”. Já explicamos em textos anteriores, mas segue aqui um pequeno resumo: o gênio epidêmico é o medicamento que poderia tratar a maioria das pessoas doentes, incluindo os casos graves. Ele só pode ser identificado quando a epidemia chega a um determinado local, pois os sintomas em certa cidade ou país podem ser diferentes dos que observamos em outras cidades ou países. Por isso, foi preciso esperar que a epidemia chegasse até nós para verificarmos quais sintomas as pessoas que ficavam doentes apresentavam, e assim escolher a melhor medicação. Embora já tivéssemos as indicações de medicamentos homeopáticos escolhidos em outros países, só poderíamos confirmar isto analisando e comparando com os nossos casos. Na Índia, país que faz fronteira com a China, o medicamento escolhido foi o Arsenicum album, como já dissemos em outro texto. Este medicamento foi dado à população, e a taxa de infecções e mortes na Índia tem sido surpreendentemente baixa até agora. Por isso, até este momento, ainda penso que o Arsenicum album é um forte candidato a ser o “Gênio Epidêmico” , o medicamento da epidemia. Na minha experiência ele tem se mostrado muito eficiente no tratamento dos quadros agudos na maioria das pessoas, e os sintomas da fase mais grave estão cobertos por ele. A única ressalva que ainda tenho, como já disse, é o tratamento de pacientes graves em UTIs. Seria ponto sem questionamento se pudéssemos observar esta melhora também nestes pacientes, mas até este momento não tenho este dado clínico. 3. E a forma que mais pode ajudar quem já se trata com Homeopatia: é preciso que todas as pessoas continuem seus tratamentos homeopáticos. Quando temos uma doença como esta, na qual as pessoas ainda não desenvolveram imunidade, é de fundamental importância que a imunidade inespecífica (a nossa resistência geral) esteja bastante eficiente, e conseguimos isto ao tratar homeopaticamente as doenças crônicas das pessoas (pacientes mais antigos de homeopatia entendem isto como o “remédio de fundo”). Com a manutenção do tratamento, a imunidade melhora, e a pessoa fica mais resistente às doenças em geral - além de melhorias em todos os órgãos e sistemas corporais, como o respiratório, digestivo, cardiovascular, endócrino e nervoso/psíquico. Com tudo em equilíbrio, nossa energia vital aumenta, e ficamos mais fortalecidos. Então vamos resumir as recomendações: 1. Fique em casa se for possível . Caso precise sair, use máscaras e tenha em mente um distanciamento das outras pessoas. 2. Lave as mãos . E o hábito de deixar os sapatos fora de casa deveria ser mantido sempre. 3. Converse com seu médico para saber quem poderia utilizar o Arsenicum album nesta epidemia, e de que forma. 4. Em casos agudos, ao menor sintoma, entre em contato o quanto antes . Evite tomar medicamentos que diminuam sua imunidade, e siga as recomendações médicas. 5. Não deixe de dar continuidade ao seu tratamento médico, ou à terapia. As consultas online neste momento estão ajudando muito. 6. Mantenha hábitos saudáveis , mesmo ficando em casa. Procure respeitar os ritmos de sono, os horários das refeições, evite excessos de comida ou bebida, tome sol, pratique exercícios. Finalmente, caso precise de ajuda para qualquer assunto relacionado à sua saúde, sejam questões físicas ou emocionais, entre em contato . A Homeopatia pode ajudar.
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