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Criança dá trabalho? Como lidar com crianças pequenas

Tânia R Baptista • 15 de julho de 2018

Quem não tem dúvidas sobre como cuidar de filhos pequenos? É um trabalho delicioso, mas grande e desafiador. Vamos começar falando de crianças bem pequenas e, como o assunto é longo, por enquanto vamos ficar no desenvolvimento emocional das crianças menores que 3 anos.

A criança ao nascer não tem noção do “Eu” (veja o artigo “ Crianças que dormem com os pais: a quentinha e perigosa cama da mamãe" ). Ela não compreende o mundo da mesma forma que os adultos ou as crianças maiores; não entende a diferença entre humanos e objetos. É pelo contato afetuoso com o outro, geralmente com a mãe, que o bebê começa a conhecer o mundo, as pessoas, e perceber que ele e a mãe não são uma coisa só. Assim que nasce o bebê já começa a desenvolver a sua linguagem – pois é, mesmo bebês tão pequenos já tem linguagem!

Quem nunca viu mãe trocando as fraldas de seu bebê? Ela fala com ele o tempo todo. E não é só isso, ela dá sentido para qualquer movimento que ele faça, imita sua expressão, fala mais lento e agudo, como se quisesse facilitar a sua fala para aquele pequenino ser .

Há quem diga que isso é ridículo, mas não é. Isso é fundamental, pois nesse jogo um imita o outro e a linguagem passa a ser construída. Lembro-me de uma vez quando entrevistava a mãe de uma criança com atraso de linguagem, e ela disse que tinha visto no banheiro uma mulher falando muito com o bebê ao trocá-lo. E ela achou esquisito, porque o bebê não a entenderia, e me perguntou: “ Eu deveria ter feito o mesmo quando meu filho era pequeno? Eu não sabia disso” . Esta relação tão íntima entre a mãe, ou quem faça o papel de cuidador, e o bebê não pode ser ensinada; ela é uma consequência do que já foi vivido pela própria mãe quando ela era um bebê.

A primeira dificuldade em estabelecer limites está na própria resistência dos pais.

Assim como a linguagem começa a se desenvolver no nascimento, o mesmo ocorre com a formação da sexualidade no ser humano. O bebê sente prazer e satisfação em tudo que está relacionado a boca: sugar é muito prazeroso não só por saciar a fome, mas pelo contato com o seio materno, pelo calor, pela delicadeza do gesto. Tudo que o bebê leva à boca, além de prazeroso, é também uma forma dele conhecer o mundo. Em Psicanálise, chamamos este período de fase oral.

Nesta fase é importante saber lidar com o quanto eu posso oferecer ao bebê.

Ele precisa de afeto, calor, embalo, contato físico, carinho, mas também precisa de limites. O bebê precisa da oportunidade de explorar sua fase oral, mas na medida certa; nesta fase, tanto o excesso quanto a falta podem criar uma fixação quando este indivíduo for adulto (o adulto que sempre tem algo na boca, “fixado” na busca do prazer oral). Eu vejo mulheres que deixam o bebê sugar o seio como se fosse chupeta o dia todo. Elas não conseguem fazer suas tarefas porque tem que ficar com o pequeno grudado nela. Também já vi o contrário: mães que não permitem que alguém tire o bebê do berço, salvo para as mamadas, para não criar dependência ao colo. O caminho do meio requer ponderação. A primeira dificuldade em estabelecer limites está na própria resistência dos pais.

Por isso, estabelecer limites com amor é fundamental. Vejam que o bebê, quando nasce, é puro desejo. Caso ele não seja satisfeito nos seus desejos ele chora. Ele ainda não tem o “Eu” formado para avaliar a situação, nem tampouco uma censura interna que diga a ele o que deve ou não fazer (a censura interna é o que popularmente as pessoas chamam de “consciência interna”, embora esta definição não seja adequada). É principalmente pela atuação dos pais – que o repreendem ou o elogiam, que permitem ou não – que o bebê começa a formar uma censura.

Há muitas possibilidades além da repreensão rude e da permissão total.

Se pensarmos nisto como algo ruim, que limita, que agride, é claro que não vamos querê-la, mas se pensarmos que sem limites cada um faz o que o deseja, sem medir consequências, sem pensar no sofrimento do outro e até o de si mesmo, vemos que é necessária. Então, que tipo de censura posso oferecer ao meu filho? Novamente vamos para o caminho do meio. No caso do bebê, a melhor censura é aquela que permite que ele experimente tanto o prazer como o desprazer, o ter e a falta. Ele precisa vivenciar a hora de mamar e a hora de não mamar; nesta hora (do “não ter”), ele pode viver o brincar, escutar a mamãe ou o papai cantar, ou até chorar um pouquinho; pode também mudar o foco do seu desejo (por exemplo, descobrir o pé, etc). Há muitas possibilidades além da repreensão rude e da permissão total. Vale também a pena refletir na censura que herdamos de nossos pais. Às vezes recebemos uma censura rígida demais, ou muito fraca; e queremos manter o mesmo padrão por qualquer motivo (por tradição, desconhecimento, etc), mesmo às custas de muito sofrimento. Às vezes recebemos uma censura rígida e queremos fazer o contrário com os filhos, permitindo tudo. O caminho do meio envolve a gente se conhecer para poder transmitir uma censura educadora, mesmo que seja a primeira vez que alguém da nossa família faça isto.

Como ainda há pontos muito importantes a dizer sobre este período da criança, no próximo artigo falaremos um pouco mais sobre este assunto.

Paz e bem.



Por Paulo Daruiche 20 de abril de 2020
Estamos vivendo momentos difíceis no Brasil, e especialmente na cidade de São Paulo. Após um mês do primeiro caso confirmado de vítima fatal relacionada à Covid-19 (este texto foi revisado em 17/abril/2020), passamos de 2000 mortes no Brasil (no estado de São Paulo temos a maior incidência, que são 928 mortes). Segundo os especialistas, estamos ainda na curva ascendente desta epidemia. E o isolamento paulista por enquanto segue até o dia 10 de maio. Um fator que aumenta muito o estresse que estamos vivendo é a falta (ou o excesso) de informações. Em parte porque ninguém ainda sabe, realmente, muita coisa sobre essa doença nova. Estamos aprendendo com ela, ao longo do tempo. Temos visto a comunidade científica divergindo de opinião. Por exemplo, vimos pesquisadores renomados afirmando veementemente que o número de mortos no Brasil (por sermos um país subdesenvolvido) poderia passar de um milhão de pessoas. Esta profecia parece ser bem distante de acontecer, ao menos até agora. Também vemos a divisão sobre quais tratamentos seriam mais eficientes, quais protocolos teriam melhor efetividade nas UTIs etc. O que temos de concreto até o momento? Em primeiro lugar, vamos ver as estatísticas. No Brasil, a mortalidade relacionada a esta doença hoje é de cerca de 6%. Ou seja, morreriam 6 em cada 100 pessoas doentes. É um número alto; mas esse número não está correto , pois não se sabe ao certo quantas pessoas tem a doença no Brasil. Estima-se que o número de pessoas contaminadas com Coronavirus seja muito maior (alguns pesquisadores falam em 10x mais), e não sabemos o número correto porque não são feitos testes para pessoas assintomáticas, ou com sintomas leves. Por isso, a taxa real de mortalidade deve ser bem mais baixa - talvez algo em torno entre 0,5 e 1%. Em segundo lugar (ainda nas estatísticas), existe um grupo de risco muito claramente definido. São as pessoas maiores de 60 anos, que apresentem doenças crônicas anteriores - especialmente cardiopatia e diabetes: 75% das vítimas fatais estão neste grupo (ou seja, 3 em cada 4 vítimas). E os homens também estão mais vulneráveis: cerca de 60% das vítimas são homens. Em terceiro lugar, nosso sistema de saúde precisa melhorar bastante. Normalmente faltam recursos, faltam leitos comuns. Esta doença, como vimos, tem uma preferência marcante por pessoas idosas, mas pessoas mais jovens também ficam doentes. O agravante é que nosso sistema de saúde não está preparado para receber um número maior de pessoas ao mesmo tempo, e isto provocaria um colapso - os poucos leitos que temos são ocupados rapidamente, e podemos chegar a uma situação na qual estejamos sem estrutura para acolher as pessoas doentes. Esta é a razão do isolamento em casa: demorar mais para contaminar toda a população, e dar tempo para os leitos dos hospitais ficarem desocupados (ou não totalmente ocupados, por nem todos ficarem doentes ao mesmo tempo). Além disto, não há consenso sobre o tratamento, e o tempo de ocupação dos leitos hospitalares e de UTIs é de duas a três semanas. Por fim, uma comparação com a mortalidade da gripe sazonal. Estima-se que no mundo morram todo ano até 650 mil pessoas por doenças respiratórias relacionadas à gripe comum (dados da OMS -Organização Mundial da Saúde). Até o momento em que este artigo é escrito temos cerca de 150 mil mortes relacionadas ao coronavirus. Então, o que sabemos desta doença é que: . A maioria das pessoas vai se contaminar em algum momento; . A grande maioria das pessoas (especialmente as mais jovens) terão pouco ou nenhum sintoma - mas esta doença também afeta pessoas mais jovens; . A taxa de mortalidade é muito mais alta entre as pessoas com mais de 60 anos e com doenças crônicas pré-existentes; . A mortalidade é maior entre os homens; . A taxa de mortalidade real desta doença parece ser relativamente baixa, provavelmente similar à da gripe sazonal e suas complicações; . Por enquanto ainda não há consenso sobre o tratamento alopático. Como a Homeopatia pode ajudar? Como já dissemos em outros textos, a Homeopatia pode ajudar de três formas: 1. Uma delas é tratando as pessoas doentes. Sabe-se que esta doença tem três fases: na primeira fase temos poucos sintomas (às vezes a pessoa nem tem sintomas): garganta seca, dores pelo corpo, cansaço, falta de apetite, diarréia, e dois sintomas bem peculiares são a anosmia (ausência repentina do olfato sem nariz congestionado) e a ageusia (ausência do paladar); na segunda fase aparece a dificuldade para respirar, a prostração fica muito grande, a pessoa sente cansaço para os mínimos esforços. A febre é geralmente baixa, alternando com calafrios e suor. E a terceira fase é a da insuficiência respiratória, onde os pulmões ficam muito comprometidos. De um modo geral, os sintomas que temos visto nos pacientes das duas primeiras fases são: . Grande fraqueza, debilidade; tontura; . Boca seca; . Náuseas; . Diarréia; . Dores de cabeça (às vezes concentrada no olho); . Dores no corpo (nas costas principalmente); . Dor no peito (muitas vezes em queimação); . Tosse seca; . Falta de ar, sensação de estar sufocando; . Piora geral ao entardecer; . Febre com calafrios; . Transpiração profusa. Temos visto que alguns medicamentos homeopáticos tem sido valiosíssimos (como o Arsenicum album, Camphora, Bryonia alba, Phosphorus, Antimonium tartaricum, Carbo vegetabilis , entre outros), mas é preciso individualizar cada caso para escolher o melhor medicamento. Em nossa experiência, o medicamento que tem resolvido mais de 90% dos casos tem sido o Arsenicum album. Ainda não tive a oportunidade de tratar nenhum paciente internado em UTI, mas com os medicamentos acima percebemos que os pacientes que já estavam passando da segunda para a terceira fase melhoraram com o tratamento homeopático domiciliar, e a doença regrediu. Neste momento posso contabilizar mais de 30 pacientes meus tratados em casa com homeopatia (confirmados de Covid-19 ou morando com pacientes confirmados). Tenho conversado com diversos médicos homeopatas de São Paulo e do Brasil, e a experiência tem sido bastante semelhante. Arsenicum album tem sido de enorme ajuda. 2. A segunda forma de ajuda que a Homeopatia pode oferecer é a identificação do “medicamento da epidemia”, que na Homeopatia chamamos de “Gênio Epidêmico”. Já explicamos em textos anteriores, mas segue aqui um pequeno resumo: o gênio epidêmico é o medicamento que poderia tratar a maioria das pessoas doentes, incluindo os casos graves. Ele só pode ser identificado quando a epidemia chega a um determinado local, pois os sintomas em certa cidade ou país podem ser diferentes dos que observamos em outras cidades ou países. Por isso, foi preciso esperar que a epidemia chegasse até nós para verificarmos quais sintomas as pessoas que ficavam doentes apresentavam, e assim escolher a melhor medicação. Embora já tivéssemos as indicações de medicamentos homeopáticos escolhidos em outros países, só poderíamos confirmar isto analisando e comparando com os nossos casos. Na Índia, país que faz fronteira com a China, o medicamento escolhido foi o Arsenicum album, como já dissemos em outro texto. Este medicamento foi dado à população, e a taxa de infecções e mortes na Índia tem sido surpreendentemente baixa até agora. Por isso, até este momento, ainda penso que o Arsenicum album é um forte candidato a ser o “Gênio Epidêmico” , o medicamento da epidemia. Na minha experiência ele tem se mostrado muito eficiente no tratamento dos quadros agudos na maioria das pessoas, e os sintomas da fase mais grave estão cobertos por ele. A única ressalva que ainda tenho, como já disse, é o tratamento de pacientes graves em UTIs. Seria ponto sem questionamento se pudéssemos observar esta melhora também nestes pacientes, mas até este momento não tenho este dado clínico. 3. E a forma que mais pode ajudar quem já se trata com Homeopatia: é preciso que todas as pessoas continuem seus tratamentos homeopáticos. Quando temos uma doença como esta, na qual as pessoas ainda não desenvolveram imunidade, é de fundamental importância que a imunidade inespecífica (a nossa resistência geral) esteja bastante eficiente, e conseguimos isto ao tratar homeopaticamente as doenças crônicas das pessoas (pacientes mais antigos de homeopatia entendem isto como o “remédio de fundo”). Com a manutenção do tratamento, a imunidade melhora, e a pessoa fica mais resistente às doenças em geral - além de melhorias em todos os órgãos e sistemas corporais, como o respiratório, digestivo, cardiovascular, endócrino e nervoso/psíquico. Com tudo em equilíbrio, nossa energia vital aumenta, e ficamos mais fortalecidos. Então vamos resumir as recomendações: 1. Fique em casa se for possível . Caso precise sair, use máscaras e tenha em mente um distanciamento das outras pessoas. 2. Lave as mãos . E o hábito de deixar os sapatos fora de casa deveria ser mantido sempre. 3. Converse com seu médico para saber quem poderia utilizar o Arsenicum album nesta epidemia, e de que forma. 4. Em casos agudos, ao menor sintoma, entre em contato o quanto antes . Evite tomar medicamentos que diminuam sua imunidade, e siga as recomendações médicas. 5. Não deixe de dar continuidade ao seu tratamento médico, ou à terapia. As consultas online neste momento estão ajudando muito. 6. Mantenha hábitos saudáveis , mesmo ficando em casa. Procure respeitar os ritmos de sono, os horários das refeições, evite excessos de comida ou bebida, tome sol, pratique exercícios. Finalmente, caso precise de ajuda para qualquer assunto relacionado à sua saúde, sejam questões físicas ou emocionais, entre em contato . A Homeopatia pode ajudar.
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